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O cuidado como fator de sustentabilidade em situações de crise

Investigador responsável: Antónia Pedroso de Lima

Grupo de investigação: Quotidianos, Políticas e Desigualdades


Palavras-chave

Cuidar | Família e redes interpessoais | Mobilidade e vulnerabilidade | Sustentabilidade e crise

Instituição financiadora

Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)

Estado

Fechado

Data de início

01-02-2012

Data de fim

31-07-2015

Referência

PTDC/CS-ANT/117259/2010


Abstract

O conceito de cuidado tem sido utilizado em Antropologia para abordar o tratamento de situações de privação e problemas de saúde por vias que incluem a provisão do Estado aos cidadãos mas não se limitam a ela (Benda-Beckmann 1988). Na existência relacional quotidiana, cuidado é referido em sentido lato para descrever processos e sentimentos entre pessoas que cuidam umas das outras em várias dimensões da vida social e que não se encontram necessariamente em situações de carência. Para o ser humano, ser enquanto pessoa significa estar com outros, cuidar e ser cuidado, pressupor um envolvimento prático e emocional. Cuidado é uma disposição motivacional para exprimir ideologias morais do bem e do justo. É portanto frequentemente através da metáfora do "cuidado" que são expressas preocupações morais acerca de uma existência ideal num mundo com desigualdades profundas e pessoas necessitadas. Cuidado tem também um significado moral: assente na atenção e na dedicação ao outro, tem implícito o reconhecimento do outro por relação à própria existência, tornando-se assim um elemento constitutivo do laço social. Tendo em conta este quadro, e focando o caso português, o projecto propõe uma abordagem inovadora que combina o significado de factores económicos com uma ênfase na fenomenologia. Como respondem as pessoas a situações de crise de modo a criarem para si próprias, para aqueles que as rodeiam e para o mundo em que vivem uma existência sustentável? Como expressam ou criam as práticas de cuidado sentimentos de vergonha, cuidado, dependência, compaixão, solidariedade, moralidade, dignidade e auto-estima? Quais os critérios que regem o impulso para cuidar dos outros: nacionalidade, grupo de pares, parentesco ou ideologia? Como se intersectam o "mercado" (os interesses económicos materiais) com interesses como sejam criar um sentimento de pertença, cumprir um dever moral, adoptar uma posição política, responder a um chamamento religioso, acrescentar sentido à própria vida? Portugal atravessa no presente uma ampla situação de crise económica e social que, apesar de similaridades com contextos internacionais, apresenta especificidades quanto ao peso do Estado Providência. Só a partir dos anos 1970 este se começou a expandir, tanto na economia como na sociedade portuguesa em geral, segurança social, educação, pensões de reforma e cuidados de saúde, e a afectar o modo como a família e relações se desenvolveram nas últimas 3 décadas. A situação está a mudar dramaticamente, com índices crescentes de desemprego, baixos rendimentos familiares, uma significativa população imigrante, e uma crescente população idosa que aumenta a pressão sobre um conjunto de serviços sociais, a par do declínio da população nacional. Confrontadas com a diminuição da capacidade dos sistemas estatais de cuidado continuarem a providenciar este apoio, bem como com cortes de financiamento impostos pela crise económica internacional, as pessoas (re)tomam vias informais para lidar com o problema. Este "estado de emergência" estimula por outro lado a criatividade e a inovação, não só na esfera económica mas também social e moral, as quais são facilmente negligenciadas pelos estudos económicos de situações de crise. A abordagem inovadora deste projecto iluminará as dimensões originais e criativas emergentes em três domínios: 1) relações interpessoais e redes familiares; 2) instituições não-governamentais prestadoras de cuidados; 3) instituições estatais. O cuidado torna-se assim um factor de sustentabilidade económica (provendo a pessoas necessitadas); e de sustentabilidade emocional (bem-estar). As sociedades entram agora numa conjuntura em que a iniciativa pessoal, imbuída da moralidade do "cuidado" e do bem comum, se torna central. As relações interpessoais e as relações motivadas por sentimentos e ideais de bem geral são portanto centrais para a reprodução do futuro do sistema social mundial de mercado económico global em que vivemos. Com este ambicioso estudo etnográfico comparativo, procura-se contribuir para o conhecimento do modo como as práticas informais suportam a economia (sem as separar conceptualmente), como as pessoas se integram em sistemas formais e informais de cuidado e como estas estratégias se tornam eficazes e eficientes. Também importante é evitar uma visão demasiado harmoniosa dos sistemas sociais de cuidado. A nossa abordagem permitirá estudar de perto situações em que um cuidado institucional ou informal é esperado mas retirado ou recusado e em que as expectativas de cuidadores e destinatários de cuidados estão desencontradas ou não coincidem. Investigando as micro-dinâmicas das práticas de cuidado, elucidando tensões, divergências e convergências, o objectivo central é providenciar aos profissionais de ciências sociais e aos decisores os principais desenvolvimentos em filosofia moral, ética, inovação social e práticas na questão cada vez mais relevante do cuidado.

Equipa

Integrados

Catarina Frois

Integrados

Cristina Santinho

Integrados

Elizabeth Challinor

Colaboradores

Fernanda Rivas Oliveira

Colaboradores

Filipa Alvim

Integrados

José Mapril

Integrados

Manuela Ivone Cunha

Integrados

Maria Manuel Quintela

Integrados

Miguel Vale de Almeida