Aula Aberta "Etnografia, Epistemologia e Cosmovisões"
A origem do fogo e a possibilidade de controle do fogo na queimada de roça
Por José Carlos Almeida Cruz (Doutorando do PPGAS Manaus, Investigador visitante no ICS-UL (Lisboa/EDGES)
22 novembro, 11h30 > 13h00
Auditório DCV, Universidade de Coimbra
Resumo
Nas paisagens verdes de matas de terras firmes, de várzeas e rios como caminhos de encontros dos povos do rio Vaupés, com cachoeiras, correntezas e estirões, é nesta imensidão que se encontram os piratapuia, no denominado rio Papuri. É nesta paisagem que os povos indígenas compartilham essa prática e conhecimento sobre “A origem do fogo e a possibilidade de controle na queima de roça”. E a leitura sobre o controle do fogo é uma das 08 práticas que serão tratadas na tese de doutoramento do piratapuia José Carlos Almeida Cruz. A origem do fogo é o conhecimento dos Kumu do Vaupés e os povos que se relacionam e entrelaçam seus conhecimentos com o mundo complexo da natureza. É nesta perspectiva que este conhecimento entendido como prática tradicional de diálogo com a natureza, no caso desta temática, o diálogo de controle do fogo com fins que resultam em benefício do indígena, das florestas e os seres que nelas habitam, das terras e as plantas cultivadas, é levantado aqui nesta reflexão. Convém ressaltar que esta prática da possibilidade de controle do fogo é própria do piratapuia no contexto de seu território indígena ou na aldeia. Não se compara com as grandes queimadas em grande escala. Assim sendo, o intuito é trazer a reflexividade indígena de analisar, refletir e atualizar seu pensamento, reconhecendo o valor e a viabilidade das práticas ancestrais no diálogo cosmopolíticos tradicional indígena piratapuia e diplomático, no enfrentamento para o reparo a ambientes arruinados, com os seres wai mahsã (seres cósmicos) e os povos (mahsã kururi). Uma forma de pensamento e expressão de sua autonomia e identidade.
Resenha biográfica
José Carlos Almeida Cruz, é indígena do povo piratapuia, Mestre e doutorando em Antropologia Social pelo Programa de Pós – Graduação em Antropologia Social – PPGAS, na Universidade Federal do Amazonas – UFAM/Amazonas/Brasil. O foco de sua pesquisa é a Etnologia que envolve povos indígenas tradicionais da Amazonia, alto rio Vaupés-Terra Indígena do Alto Rio Negro, conhecimentos tradicionais como auto afirmação da identidade, no diálogo entre a Antropologia Indígena e Não Indígena. Assim sendo, visa a construção da literatura indígena, como nova epistemologia de reflexividade da Antropologia na Amazonia. Em 2023, defendeu sua dissertação de mestrado com o título: Bahsé ahpose - os ritos de adocicamento das águas e dos peixes na prática do tinguijamento no alto Vaupés (CRUZ, 2023). Esta dissertação foi apresentada na SALSA 2023 – XIV CONFERENCIA BIENAL – Visiones e Futuros: Amazonia desde las raíces, Triple frontera Amazónica Brasil/Colômbia/Peru, em Letícia - Colômbia na Universidade Nacional de Letícia – UNAL. Desta apresentação está em andamento para publicação, um artigo da dissertação pelo Jornal Antropológico Tipiti. Atualmente, está em Lisboa, no Instituto de Ciências Sociais na Universidade de Lisboa como pesquisador visitante do Doutorado Sanduiche da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, em parceria com EDGES.
Organização: MAGAC | GI QPD | ICS-UL | CRIA-UC
* Esta aula aberta é promovida pelo Mestrado de Antropologia, Globalização e Alterações Climáticas (MAGAC) do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra (DCV-UC).