Dia 31 de janeiro a Etnográfica Press publicou online o livro Cadernos de Orações Cripto-Judaicas e Notas Etnográficas de Judeus e Cristãos-Novos de Bragança, de Marina Pignatelli.
Quando um antropólogo inicia uma pesquisa de terreno, ele/a tem de começar necessariamente por definir um propósito e objetivos bem definidos. É sabido, à partida, que irão surgir surpresas, umas desanimadoras e outras inesperadamente construtivas, para o conhecimento na área científica em que o investigador se posiciona. No caso da pesquisa desencadeada em 2016, que resultou no livro sobre os Cadernos de Orações Cripto-Judaicas e Notas Etnográficas dos Judeus e Cristãos-Novos de Bragança, as expectativas não eram altas, ao princípio. Isto porque o propósito que moveu tal plano de investigação era o de proceder a um levantamento do que resta da cultura judaica no Nordeste português – um plano ambicioso e porventura iludido, dado que o senso comum, tanto quanto a literatura, indicavam que dos judeus, excetuando a vila de Belmonte, já nada restava atualmente nessa região do país.
Porém, o plano deu frutos. E depois de três anos de conciliação entre trabalho letivo em Lisboa e as inúmeras incursões às Terras Frias de Trás-os-Montes (distrito de Bragança), surgiu um volume de dados inesperado, que resultou neste livro e numa exposição temporária no Museu do Abade de Baçal, mostrando que esta presença judaica tem não só uma história multisecular naquele território, como persiste com as suas especificidades até ao presente.
A obra produzida procura dar conta de um conjunto de aspetos inéditos que foi possível recolher dessa cultura de resistência, genuína e multifacetada, que integra a sociedade brigantina. Aos seus detentores que colaboraram nessa recolha, a autora não se cansa de agradecer.
A pandemia atual viria apenas a interromper temporariamente o propósito de continuar a pesquisa, com o intuito de contribuir para ir complementando e atualizando o que existe ou persiste de judaísmo no Nordeste de Portugal, ligando-o ao mundo judaico mais global e mostrando os seus contributos para tornar este último mais plural.
Marina Pignatelli
CRIA/ISCSP-ULisboa