Cursos de Ano Novo (CAN)
Explorar a doença nos arquivos, em campo e no laboratório: contributo interdisciplinar
Objetivos
Alicerçando-se na interdisciplinaridade, este curso apresenta a importância do cruzamento de saberes e práticas na compreensão diacrónica do eixo corpo-doença e das suas múltiplas asserções. Centrar-se-á em três grandes domínios: a análise arquivística (diferentes tipos de fontes e documentos); o estudo de contextos arqueológicos (tipologias de enterramentos); e a análise de remanescentes humanos (métodos de observação, registo e identificação de alterações ósseas), e a sua importância cumulativa na reconstrução de padrões de saúde e comportamento. Será ainda explorada a diferenciação entre alterações de natureza patológica e pseudopatologica e a importância do diagnóstico diferencial, e da abordagem bio cultural no estudo da doença.
Programa
O curso está dividido em três grandes domínios uteis para a recolha de fontes diretas e indiretas utilizadas no estudo da doença. Com este curso pretende-se que @s alun@s adquiram conhecimentos relativos à:
Contribuição dos arquivos para o conhecimento da doença no passado, e o seu impacto societal. Serão abordados diferentes tipos de fontes documentais provenientes de diferentes poderes e entidades públicas e privadas; assim como discutidas formas de organizar e de tratar informações provenientes das mesmas;
Interpretação de contextos arqueológicos associados a eventos extremos, tais como epidemias, com base na abordagem arqueotanatológica;
Identificação, e diferenciação de alterações de natureza tafonómica e alterações de natureza patológica observáveis em remanescentes ósseos humanos e não humanos;
Sejam capazes de explorar o raciocínio subjacente ao exercício do “diagnóstico diferencial” aplicável ao estudo de remanescentes humanos.
Conteúdos programáticos
Introdução ao estudo da doença no passado, inclusivamente na análise paleopatológica, com foco em fontes primárias e secundárias, e a sua relevância para o conhecimento atual e modelação futura de impactos societais da doença;
O caso especial dos arquivos: dados indiretos para a perceção histórica, social e cultural da saúde e da doença;
A importância do contexto arqueológico e dos gestos funerários para a compreensão de episódios epidémicos. O corpo e a doença: diferentes tipos de resposta do tecido ósseo e a importância do diagnóstico diferencial. Diferenciação entre alterações patológicas e pseudopatologias. As patologias identificáveis com base na análise de elementos ósseos: alterações da cavidade oral, alterações articulares e da entese, lesões de natureza traumáticas, alterações afetas a patologias infeciosas, alterações relacionadas com problemas metabólicos e congénitos, neolplasias, entre outras;
Considerações e desafios afetos à teoria, métodos e interpretação da doença;
A importância das abordagens interdisciplinares;
Estudos de casos.
Docente(s)
Alexandra Esteves é doutorada em História Contemporânea e professora associada com agregação do Departamento de História da Universidade do Minho, na qual também exerce as funções de diretora do Mestrado em Património Cultural e de vice-presidente para a Investigação do Instituto de Ciências Sociais. É, ainda, investigadora integrada do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT) do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, onde coordena o grupo Lands, membro integrado do IN2PAST, e investigadora colaboradora do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos da Universidade Católica Portuguesa. Nos últimos anos, a sua atividade investigativa tem incidido sobre matérias que se inserem nas áreas da História Social, designadamente da saúde, da doença e epidemias, da assistência, das questões de género, da marginalidade, da violência, e das prisões, bem como da História das sociabilidades, incluindo questões relacionadas com o lazer, instituições e relações sociais, entre os séculos XIX e XX. É autora, coautora e coordenadora de diversas obras e autora de capítulos de livros, bem como de dezenas de artigos científicos publicados em diferentes países. Os resultados da sua investigação têm sido apresentados em congressos nacionais e internacionais e publicados em livros e em revistas da especialidade. Orienta teses de mestrado e de doutoramento nas áreas da História e do Património e participa em vários projetos científicos nacionais e internacionais, com financiamento.
Francisca Alves Cardoso é Doutorada em Arqueologia pela Universidade de Durham (UK) e especialista em Antropologia Biológica. Atualmente é Investigadora Auxiliar do CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia, Coordenadora do Laboratório de Antropologia Biológica e Osteologia Humana (LABOH) e Docente Convidada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa. Os seus interesses incidem sobre as questões éticas do uso, e acesso a remanescentes biológicos humanos para estudo científico e ensino. Dedica-se ainda à reconstrução de padrões comportamentais e a saúde no passado, explorando implicações societais futuras com foco na transdisciplinaridade e abordagem multi-metodológica. Orienta várias teses de mestrado e de doutoramento nas áreas da Antropologia e Arqueologia, e participa em vários projetos científicos nacionais e internacionais, com financiamento. Destes destacam-se o projeto BeFRAIL – O Porto em Tempos de Cólera e Guerra: Uma abordagem bioarqueológica à fragilidade humana, e o projeto CEECIND – Life After Death.
Sandra Assis é doutorada em Antropologia Biológica pela Universidade de Coimbra (Portugal). Concluiu o Mestrado em Evolução Humana pela Universidade de Coimbra em 2007, e a licenciatura em Antropologia pela mesma universidade em 2002. É investigadora colaboradora do CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia (NOVA FCSH, Portugal). Tem longa experiência em antropologia de campo e de laboratório e vasto conhecimento na análise de vestígios humanos numa perspetiva biológica, histórica e patrimonial. Tem particular interesse pelo estudo diacrónico de alterações e patologias ósseas e dentárias que afetaram as populações do passado e sua respetiva evolução. Tem centrado a sua investigação na análise paleohistológica de alterações ósseas. Publicou vários artigos em revistas especializadas e possui um livro infantil de divulgação da ciência. Organizou e coordenou vários eventos científicos. Tem interesse por comunicação de ciência, tendo desenvolvido dispositivos pedagógicos e realizado inúmeros workshops em escolas e museus.
Rui Leandro Maia é doutor em Sociologia (2002), mestre em História das Populações (1995) e licenciado em História (1988). Atualmente é Professor Associado Convidado da Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal, e investigador no CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”. Os seus principais domínios de investigação incluem criminologia, demografia, sociologia, segurança alimentar, meio ambiente e tratamento, análise e crítica de fontes, com produção científica traduzida em diversas publicações.
Paula Mota Santos doutorou-se em Antropologia na UCL – University College London (Reino Unido), e é Professora Associada da UFP – Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. É Investigadora Associada do CAPP – Centro de Administração e Políticas Públicas, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Portugal. É também licenciada em História, variante arqueologia pela Universidade do Porto. Tem um M.A. em Archaeological Studies pela Reading University, UK. A sua pesquisa centra-se na relação entre identidade social e espaço, e o papel dos sistemas representacionais nessa relação. Tem investigado e publicado sobre imigração, sistemas urbanos e minorias, turismo, património e práticas museológicas. Interessa-se também por fotografia anónima e documentarismo. Realizou dois documentários. É membro fundador do ATIG – Anthropology of Tourism Interest Group, parte da American Anthropological Association. Foi membro dos paineis do ATIG para o The Ed Bruner Book Award e o The Nelson Graburn Book Award. Foi Visiting Scholar no Departament of City and Regional Planning, University of California at Berkeley, tendo também colaborado com o Portuguese Studies Program da mesma Universidade.