Seminário DASE "Ecologias Populares no Pós-25 de Abril: o caso de Sines
Na próxima sessão dos seminários DASE, abordamos o tema "Ecologias Populares no Pós-25 de Abril: O Caso de Sines". O evento acontece no dia 27 de junho, das 14h00 às 17h00, com o investigador Antonio Maria Pusceddu (CRIA-Iscte). O seminário tem lugar na sala B226, do Iscte Conhecimento e Inovação. Esta é uma organização do grupo de investigação Desafios Ambientais, Sustentabilidade e Etnografia (DASE). Não perca esta oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre as ecologias populares e os desafios ambientais.
RESUMO
É comum, nas reconstruções históricas do ambientalismo português, afirmar que as preocupações ambientais, no pós-25 de Abril, foram marginalizadas por questões sociais e políticas tidas como mais urgentes e centrais na nova fase histórica do país. Este seminário pretende propor uma leitura diferente, examinando os conflitos socioambientais que se desencadeiam em Sines em volta do grande projeto portuário-industrial impulsionado pelo Estado Novo, enquanto expressões daquelas que poder-se-iam chamar “ecologias populares”.
Em 1971 é instituído o Gabinete da Área de Sines (GAS), com o objetivo de criar um grande polo de desenvolvimento urbano-industrial na região. A conceção e a primeira implementação do plano são caracterizadas pelo autoritarismo do regime. O GAS impõe-se come entidade plenipotenciária através a maciça expropriação de terrenos nos concelhos de Sines e de Santiago do Cacém. Os arranques dos trabalhos causaram de imediato a profunda alteração da paisagem, da economia e das formas de vida das populações. A aversão local ao projeto e ao GAS se manifestam subitamente depois do 25 de Abril. Contudo, os governos provisórios que se sucedem no pós-25 de Abril decidem dar continuidade ao projeto industrial, considerado estratégico pela economia nacional.
A continuidade do projeto de Sines no pós-25 de Abril pode ser considerada um caso emblemático das contradições que se desencadeiam na fase auroral do Portugal democrático. Por um lado, o 25 de Abril criou as condições para a participação popular na vida democrática; por outro lado, o projeto de Sines se impus através da forma centralizadora com quem tinha sido concebido. À volta desta pesada herança do Estado Novo, se agitam novas formas de protagonismo popular, à medida que as relações com o Estado central vão ganhando forma através de novas instituições democráticas.
A realização do complexo industrial, embora fortemente redimensionado, se arrastou durante anos de conflitos e negociações. Estes atingiram momentos de intensidade com a “greve ecológica” de 1982 e o bloqueio do porto por parte dos pescadores, contra a poluição do mar e em defesa da saúde e do sustento.
Olhando para a vertente politico-ecológica da Revolução como momento fundador do Portugal democrático, o objetivo da comunicação é mapear a expressão e as formas (implícitas e explicitas) das ecologias populares libertadas pelo 25 de Abril, bem como os recuos e os compromissos que se manifestaram na continuidade do controverso projeto Sines. Este trabalho baseia-se numa investigação antropológica em curso, que combina observação etnográfica, pesquisa histórico-arquivística e fontes orais.