Resumo:
O capitalismo levou à expropriação, privatização e sobre-exploração de terras, recursos, sistemas de governança e outros bens comuns, gerando dinâmicas de exploração, opressão e exclusão. Hoje, perante o agravamento da crise ecológica, que se sobrepõe a crises de cariz socioeconómico, o poder hegemónico avança com intervenções extrativistas por diferentes territórios, apresentadas como solução para um futuro dito mais sustentável e verde. Em resposta a tais ameaças, as comunidades que neles habitam organizam-se, mobilizam-se, resistem e recriam projetos autónomos e solidários em torno da defesa dos comuns - seja a terra, a água, a energia, os meios de produção, o conhecimento, entre muitos outros - por um futuro mais justo. As lutas em torno dos comuns e as múltiplas formas e práticas de defesa e emergência de ‘velhos’ e ‘novos’ comuns são uma janela aberta para pensar e reimaginar outros futuros possíveis e necessários, pela vida, justiça, dignidade e alegria.
Enquanto a hegemonia neoliberal promove processos de privatização e coerção económica que ameaçam a existência dos comuns, designadamente em períodos de crise económica e social, observa-se uma reinvenção e surgimento de novos comuns, seja sob a figura de associações e cooperativas, seja de maneira mais informal, por via de hortas comunitárias, edifícios ocupados ou a recuperação de conhecimentos e práticas para o cuidado coletivo de rios, canais, bacias, solos e outros bens comuns. Aproximando-se a celebração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, um período em que a revolta popular das e dos que não tinham voz se fez ouvir e que foi marcado por inúmeros processos e experiências de emancipação social, como a ocupação de fábricas e herdades e iniciativas coletivas de auto-gestão, assim como a conquista de vários direitos sociais e políticos em torno da habitação, da saúde, do trabalho, entre outros, é oportuno refletir sobre quais as ameaças, resistências e emergências que os comuns enfrentam hoje e sobre que inspirações- podem estes patrimónios de luta e as suas heranças trazer às lutas atuais.
Este terceiro encontro de Ecologia Política tem como objetivo explorar as diversas abordagens ao conceito e à prática dos "comuns" (commons) e dos processos de fazer-em-comum (comunalização). Queremos prestar especial atenção às diversas ameaças que se colocam à própria possibilidade de fazer-em-comum e de recriar os comuns, assim como às respostas que emergem para que estes continuem a existir e a ser forjados no mundo contemporâneo, questionando-nos sobre o seu significado político, social, económico e ecológico, designadamente sobre s seus contributos para a construção de mundos mais justos. Num formato renovado, que visa incluir mais parceiros e uma diversidade de formas de sentir-pensar além da tradicional conferência académica, este terceiro Encontro almeja ainda ser um primeiro passo na criação de uma Rede de Ecologia Política em Portugal, fomentando a convergência de académicos e ativistas que orientam a sua ação em torno de um horizonte de emancipação social e de defesa das bases ecológicas e sociais da vida.
Envio de Propostas
Incentivamos a apresentação de comunicações, oficinas, rondas de conversa, artes visuais, performance e outras intervenções criativas em colaboração com académicos, ativistas e artistas, em torno dos seguintes temas (embora não se limitando a estes):
● Conflitos urbanos, gentrificação e os comuns
● Florestas, ruralidade e resistências
● Extrativismos, energia verde e comuns energéticos
● Cooperativismo e economias solidárias
● Comuns agrícolas, sistemas alimentares e soberanias
● Os comuns e coletivos em resistência nas zonas costeiras e sistemas hídricos
● Metodologias críticas e de ação-investigação pro-comuns
● Comuns, poder, democracia, e populismos de direita
● Patriarcado, feminismos e ecologias queer
● Racismo, xenofobia e solidariedades
● Trabalho, capitalismo verde e os comuns
As pessoas e coletivos interessados devem enviar um título e um resumo da sua proposta (até 200 palavras), acompanhado por uma breve nota biográfica (até 100 palavras) e filiação , através do formulário disponível na seguinte ligação: https://forms.gle/v1hj9fF6r8eyQduT8
As propostas devem ser enviadas até ao dia 16 de fevereiro de 2024.
O evento irá decorrer em formato presencial e online, e em vários espaços físicos dentro e fora da academia que serão informados em breve. (por confirmar)
Email de contacto em caso de dúvidas ou questões: ecop.cria@gmail.com
Este 3º Encontro é co-organizado pelo Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), a Oficina de Ecologia e Sociedade (ECOSOC) do Centro de Estudos Sociais - Coimbra, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) e o Jornal MAPA.
Equipa organizadora: Antonio Maria Pusceddu (CRIA), Catarina Leal (CRIA), Diogo Sobral (CRIA), Felipe Mardones (CRIA), Filipe Olival (CRIA/CES), Gustavo Garcia (CES), Joana Martins (CRIA), Joana Sá Couto (ICS-UL), Raquel Pereira (CRIA), Rita Calvário (CES), Ruy Llera Blanes (CRIA), Vanessa Iglésias Amorim (CRIA)