Encontro coorganizado pelos grupos de investigação do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA): Governação, Políticas e Quotidiano (GPQ), Circulação e Produção de Lugares (CPL), Desafios Ambientais, Sustentabilidade e Etnografia (DASE) e Práticas e Políticas da Cultura (PPC).
Resumo:
Justiça e injustiça são categorias extensas, densas que abrangem discursos, práticas, experiências, sistemas e visões normativas altamente diversificadas e disputadas. Longe de serem noções consensuais, justiça e injustiça tornam-se lugares de conflito, idiomas de sofrimento e descontentamento, assim como horizontes reivindicativos em cenários de desigualdade aguda.
Há algumas décadas, e mais intensamente desde a crise financeira de 2008, atravessamos, vivemos e pensamos através do prisma da crise sistémica – da persistente crise social à instabilidade económica, da crise pandémica à crise climática. As crises obstruem o presente e geram ruptura face às expectativas de futuro, dentro de um marco de grandes desigualdades globais, entrelaçadas com lógicas de racialização, diferenciação de classe e género, exploração económica e ambiental.
Neste cenário, ganham força debates sobre justiça/injustiça e merecimento, que se tornaram centrais não apenas no seio de diferentes movimentos sociais, bem como emergem enquanto idiomas do sentido comum, na medida em que expressam (embora de forma contraditória) as experiências da iniquidade, dentro e além dos discursos populistas.
No ano de 2019 o movimento pela Justiça Ambiental atingiu um alcance global. Este conceito, surgido pela primeira vez nos anos ‘80 nos Estados Unidos como discurso reivindicativo contra o racismo ambiental, centra-se na preocupação com a distribuição desigual dos custos sociais decorrentes da exploração ambiental entre os diferentes grupos humanos, de acordo com distinções de classe, raça/etnia, género e localização espacial. Em Portugal, as reivindicações pela Justiça Ambiental, ganhou destaque na Greve Climática Estudantil (GCE). Pouco meses depois do surgimento da GCE, a pandemia de Covid19 e o confinamento que imediatamente se seguiu, representaram um primeiro limite à presença pública destes movimentos. Simultaneamente, a experiência do confinamento levou a que recrudescesse um discurso de justiça/injustiça mais alargado uma vez que o Covid19 apareceu como a intensificação de um conjunto de problemas sócio-ambientais e sanitários, que expôs como as desigualdades sociais, económicas e ambientais foram agravadas pela dimensão sindémica da crise, agudizando a percepção, a experiência e o sentido de injustiça.
Este segundo encontro de Ecologia Política pretende explorar as várias vertentes das noções de justiça/injustiça, colocando particular atenção à interação entre dimensões diferentes (sociais, ambientais, políticas, de género, de racialização, etc.) e como esta interação molda a percepção e a experiência e/ou enquadra os horizontes de e pela justiça.
Convidamos contribuições que enderecem temáticas como:
● Percepções e noções de justiça/injustiça e relação com noções de merecimento e dignidade humana;
● Sentidos de injustiça e discursos de justiça como idiomas das crises e como horizontes prefigurativos;
● Interseções entre in/justiça ambiental e in/justiça social e suas manifestações espaciais e geográficas (cruzando diferentes condições de subalternidade, desigualdade, relações de poder assimétricas, condições de vida e acesso, etc.)
● Topografias globais e regionais da in/justiça em relação à extração de recursos e relativas implicações política e sócio-ambientais;
● in/justiça como framework para pensar as relações humano/não humano (tanto a nível ontológico como político e jurídico);
● Justiça e injustiça como categorias dos comuns e da luta pelos comuns;
● Justiça como horizonte de luta para o reconhecimento (lutas redistributivas e lutas reprodutivas) e argumentos morais mobilizados;
● Articulações da justiça como discurso e como prática (como quadro normativo, como terreno de conflito, como horizonte de ação, etc.);
● Formas territorializadas e escala transnacional dos movimentos pela justiça ambiental;
● Sistemas judiciais, concepções jurídicas da natureza e lutas socio-ambientais
● Violência, opressão e racismo ambiental;
● In/justiça intergeracional;
● In/justiça, capitalismo, in/sustentabilidade e reprodução da vida.
Envio de propostas:
As pessoas interessadas devem enviar um título e um resumo da comunicação (até 200 palavras), acompanhado por uma breve nota biográfica e filiação institucional, através do formulário disponível na seguinte ligação: https://forms.gle/cUedjjpasvhdDiVD8
As propostas devem ser enviadas até ao dia 31 de janeiro de 2023.
O evento irá decorrer em formato misto, presencial e online.
Equipa organizadora: Antonio Maria Pusceddu, Catarina Leal, Filipe Olivais, Joana Martins, Raquel Pereira, Ruy Blanes, Vanessa Iglésias Amorim.
Email de contacto em caso de dúvidas ou questões: ecop.cria@gmail.com