Apresentação
Público Alvo
Agentes culturais, técnicos municipais, público em geral
Objetivos
Em 2003, a UNESCO aprovou a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, referente aos bens culturais imateriais, e elementos materiais e naturais associados, que são expressivos de identidades e memórias coletivas de grupos e comunidades. Enquanto os processos de inventariação e registo deste património têm sido cada vez mais discutidos e aplicados em Portugal, as dinâmicas associadas à sua salvaguarda, valorização e divulgação sustentáveis carecem de um maior reconhecimento e aprofundamento teórico-prático.
Acreditado pela UNESCO no âmbito da Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial e com ampla experiência na investigação e promoção desta área, o Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA) convida agentes culturais, técnicos municipais, empreendedores e demais interessados à inscrição no curso “Salvaguarda, valorização e divulgação do Património Cultural Imaterial: 20 anos da Convenção da UNESCO”. Do fomento dos meios de transmissão à mercadorização dos bens culturais, passando por diversas valências da museologia, o curso atende aos princípios da Convenção no seu reconhecimento dos grupos e comunidades como atores privilegiados nas práticas de conhecimento e de divulgação do seu património.
Programa
SEGUNDA-FEIRA | 17 JUNHO
10h00 > 13h00
Cultura e património: a salvaguarda em questão | Marta Prista
A salvaguarda como prática de conhecimento, transmissão e valorização do património cultural imaterial é preocupação central da Convenção de 2003. Partindo de uma introdução histórica e crítica aos conceitos de património e cultura, este módulo propõe uma discussão sobre o que é ou pode ser a salvaguarda, o quê se salvaguarda, por quem e para quem, e como impacta nas práticas e conceções das comunidades, grupos e indivíduos que fazem o património.
14h30 > 16h00
Salvaguarda do Património Cultural Imaterial em Portugal: o caso da candidatura do Fado à Lista Representativa da UNESCO | Rita Jerónimo
Percurso da salvaguarda do Património Cultural Imaterial em Portugal. O inventário nacional do PCI como instrumento de salvaguarda: controvérsias e paradoxos. Da marginalidade ao consenso nacional: processo de patrimonialização do Fado, a candidatura do Fado à Lista representativa do PCI da humanidade, história dum percurso, antecedentes, envolvimento da comunidade e plano de salvaguarda.
16h30 > 18h00
Dez anos de Dieta Mediterrânica enquanto património cultural imaterial: balanço e perspetivas | Joana Lucas
Neste módulo, a partir de um balanço dos dez anos da “Dieta Mediterrânica” enquanto património cultural da humanidade centrado em estudos de caso realizados em Portugal e Marrocos, pretende-se avaliar os impactos desta classificação nos dois territórios, bem como as transformações operadas ao nível das práticas e consumos alimentares. Pretende-se ainda pensar de que forma as narrativas associadas à “Dieta Mediterrânica” podem ser projetadas num futuro próximo.
TERÇA-FEIRA | 18 JUNHO
10h00 > 11h30
Avanços e impasses na transmissão de conhecimentos associados ao património | Hellington Vieira
A partir da pesquisa de campo realizada no âmbito da tese de doutoramento intitulada "A Resistência do Solo - Diálogos e narrativas da terra no Alto Alentejo", pretende-se apresentar uma reflexão sobre como a busca da imaginação baseada no registo etnográfico pode contribuir para os diálogos sobre a preservação e a continuidade de conhecimentos associados ao património, de modo que as práticas e os incentivos não sejam baseados sobretudo em interesses económicos e políticos. Trata-se também de pensar um futuro mais democrático para os caminhos do património no qual as possibilidades de ação possam superar as probabilidades.
11h30 > 13h00
Transmissão de geração em geração: a questão da imagem social | Júlio Sá Rego
PCI refere-se a uma manifestação viva. Sua continuidade está subordinada aos processos comunitários de transmissão de geração em geração, sejam eles orais, escritos, formais ou informais. Certas manifestações, contudo, enfrentam estigmas sociais que levam a juventude a se afastar de suas práticas culturais. Esse módulo aborda a questão da imagem social como ameaça à salvaguarda e formas de resistência a partir de estudos de caso em Moçambique e Portugal.
14h30 > 16h00
Desafios na (re)apropriação e restituição de património | Emiliano Dantas
O património colonial, enquanto imagem ou obra de arte, seria passível de ser reescrito, (re)significado ou (re)apropriado como uma mudança de narrativa? Esta indagação envolve ações políticas, artevismo, disputa narrativa e controle epistémico do Outro. A partir de casos ocorridos recentemente, observamos como o património colonial vem sendo problematizado estética e eticamente, tanto na Europa como nas ex-colónias.
16h30 > 18h00
Museus, coleções e restituição | Rodrigo Lacerda
Os museus e coleções etnográficas na Europa enfrentam diversos desafios em relação à sua construção epistemológica e política, bem como sua relevância para as sociedades contemporâneas. Simultaneamente, estas coleções, constituídas por objetos, artefactos audiovisuais e conhecimentos associados, têm atraído cada vez mais interesse das comunidades de origem e suas diásporas, destacando o potencial dos processos de restituição, especialmente os digitais ou virtuais, como meios para criar novas relações entre instituições, comunidades de origem e a sociedade em geral. Este módulo propõe uma abordagem que considera as restituições digitais não como o fim de um processo, mas como catalisadores de experimentação, reconfiguração e atualização museológica e como dispositivos de afirmação e reconstrução identitária e cultural de grupos sociais, tanto em Portugal, como noutros contextos.
QUARTA-FEIRA | 19 JUNHO
10h00 > 11h30
Do terreno ao museu: Diálogos (im)perfeitos entre o património vivo e o objeto museológico | Ana Saraiva
A partir de pontos de contacto entre expressões de património imaterial - no terreno - e objetos patrimonializados - no museu - exploram-se modos de fazer a “biografia do objeto”, o discurso expositivo e a prática da mediação, em co-criação com cidadãos e comunidades implicados na salvaguarda destes patrimónios.
11h30 > 13h00
Complexidade e multivocalidade: o património cultural imaterial das comunidades migrantes no espaço do museu | Inês Lourenço
O património imaterial das populações migrantes permite dar voz à heterogeneidade e à pluralidade das suas referências identitárias e culturais. Pretende-se refletir sobre o uso de metodologias colaborativas e inclusivas nas práticas expositivas do património migrante e do seu contributo para novas leituras e interpretações.
14h30 > 18h00
Mural 48 artistas, 48 anos de liberdade | Sónia Almeida, Marta Prista e Constança Arouca
Visita comentada
QUINTA-FEIRA | 20 JUNHO
10h00 > 11h30
Arquivos etnográficos: usos e potencialidades | Rita Ávila Cachado
Neste módulo será abordado o conceito de arquivo etnográfico, usos atuais (nacional e internacionalmente) e potenciais utilizações. Debateremos ainda sobre a consciencialização da importância da salvaguarda dos materiais etnográficos.
11h30 > 13h00
Os arquivos etnográficos e a (re)invenção das imagens | Márcia Mansur
Se, por um lado, a documentação é um dos principais eixos das ações de salvaguarda do património cultural imaterial, retomar o arquivo, por outro, é um ato estético e político da potência do devir. Nesta sessão, a partir do entrelaçamento da teoria cinematográfica e da filosofia da imagem, examinaremos os paradoxos da preservação. Tópicos incluem: o filme e o corpo como arquivos; imagem-tempo, montagem e extracampo; património cultural intangível e as materialidades da imagem; preservação do património e sobrevivência em imagens.
14h30 > 16h00
Valorização e mercadorização do património cultural imaterial | Mariana Silva
A linguagem do PCI já ultrapassou as fronteiras definidas pela UNESCO. A partir de alguns exemplos de processos de patrimonialização de indústrias tradicionais (como os lápis e o calçado), pretendemos olhar para circulações e contaminações entre o universo do património, os modos de mercadorização contemporâneos e as dimensões imateriais do consumo.
16h30 > 18h00
A alimentação como Património Cultural Imaterial: debates e críticas| Inês Mestre
Neste módulo são abordados, a partir de estudos de caso, alguns debates e críticas sobre a patrimonialização alimentar, nomeadamente na área do Património Cultural Imaterial. Temas como mercantilização, propriedade e circulação da cultura serão trazidos à discussão.
SEXTA-FEIRA | 21 JUNHO
10h00 > 11h30
Reaproximações entre património, natureza e cultura | Catarina Leal
A luta contra o petróleo no Algarve, travada até 2018, foi protagonizada por diferentes movimentos sociais que evocaram argumentos patrimonialistas para a defesa daquele território. A partir deste caso específico, propõe-se que os participantes deste módulo reflitam sobre a maleabilidade do conceito de património e sobre os seus usos políticos.
11h30 > 13h00
Diálogos com o ‘Mar Azul’ da Ericeira| Vera Azevedo
Através da perspetiva de surfistas e pescadores da Ericeira, observamos as tensões espoletadas por um projeto global que obedece a critérios ecológicos de preservação da natureza, o qual esteve na génese da Reserva Mundial de Surf, e as políticas públicas com vista ao desenvolvimento económico local em torno do património marítimo.
14h30 > 18h00
Workshop Medidas de salvaguarda, valorização e promoção do PCI | Júlio Sá Rego
A salvaguarda do PCI é a principal finalidade da Convenção de 2003. Classificações e listas são mais consideradas como vitrines da diversidade do PCI e compromissos com sua salvaguarda, enquanto o processo de inventário é erigido em principal instrumento de ação. A partir de processos concretos de inventário, esse workshop ambiciona dotar os participantes de ferramentas para desenhar estratégias concretas e efetivas de salvaguarda do PCI.
pausa para café prevista às 16h exceto na quarta-feira
Cartaz
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