A carregar

Rexistência Indígena e Arquivos Etnográficos

Investigador responsável: Rodrigo Lacerda

Grupo de investigação: Práticas e Políticas da Cultura


Palavras-chave

Cinema Indígena | Restituição digital | Património | Museologia colaborativa

Instituição financiadora

Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)

Estado

Aberto

Data de início

01-09-2022

Data de fim

31-08-2028

Referência

2021.00346.CEECIND


Abstract

Os museus etnográficos na Europa enfrentam vários desafios, nomeadamente ao nível da sua relevância para as sociedades ocidentais contemporâneas e do imperativo da sua descolonização. Concomitantemente, os arquivos dessas instituições têm despertado o interesse crescente das comunidades de origem e suas diásporas, dando origem a projetos de museologia colaborativa que estão reavaliando e reassemblando os arquivos (Harrison et al. 2013; Krmpotich, Peers 2013; Deliss 2020) e produzindo iniciativas de restituição (Brown, Peers 2006; Sarr, Savoy 2018). Este projeto visa inovar através da expansão da pesquisa e do empenho e ethos colaborativo para os povos indígenas das terras baixas da América do Sul, especificamente no Brasil, que têm diferentes histórias coloniais, estruturas sociopolíticas, ontologias de pessoa e de coisas, concepções de propriedade e regimes de cuidado (Santos-Granero 2009; Viveiros de Castro 2014; Brightman et al. 2016). Neste contexto, essas iniciativas fazem parte de movimentos de “rexistência” (Viveiros de Castro 2017), um neologismo que reconhece que a existência imanente de outros modos de ser é uma resistência contra o etnocídio, o epistemicídio, o ecocídio e as políticas assimilacionistas do Estado-nação e do capitalismo tardio; e que argumenta que o conhecimento corporalizado nos arquivos pode “re-existir” como meio de existência e de resistência através da interação transformadora com os coletivos indígenas contemporâneos.
A inovação nesta proposta será fomentada através da pesquisa de: 1) como os arquivos são reavaliados e re-existidos pelos povos indígenas; 2) as conexões, atritos e equívocos entre os movimentos indígenas e as políticas, protocolos e leis nacionais e internacionais sobre património e propriedade cultural; 3) o avanço de metodologias e protocolos teórico-práticos colaborativos para tornar os arquivos acessíveis aos detentores indígenas do património indígena, inclusive por meio da restituição digital; e 4) os potenciais e dilemas da digitalização de coleções por meio do desenvolvimento colaborativo de um protótipo de banco de dados online com as comunidades de origem, outros representantes indígenas e especialistas internacionais.
O projeto envolve uma dupla abordagem. Por um lado, irá pesquisar e reavaliar o arquivo do Museu Nacional de Etnologia em Portugal constituído por objetos, fotografias e filmes obtidos em 1964-65 com dois povos indígenas, que apresentam diferenças sociais, culturais e históricas relevantes para uma análise comparativa dos principais desafios éticos, legais, políticos e ontológicos deste empreendimento. Por outro lado, a pesquisa será reforçada pela expansão do meu trabalho anterior com o cinema colaborativo indígena, desta vez centrado na re-existência de imagens de arquivo. A proposta está focada, mas não exclusivamente, no aspecto visual dos arquivos devido ao interesse específico das comunidades de origem por este material e para produzir sinergias com outros projetos em andamento.