Palavras-chave
Arqueotanatologia | Remanescentes Humanos | Metogenómica | Saúde
Instituição financiadora
Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Parceiros
Instituições de colaboração: Universidade Nova de Lisboa, Universidade Fernando Pessoa, Cranfield Forensic Institute (Cranfield University), Universidad Complutense de Madrid, Universidade de Santiago de Compostela
Data de início
01-03-2023
Referência
2022.02398.PTDC
Abstract
Com o despertar recente da pandemia do COVID19 a fragilidade humana assumiu-se como tópico proeminente das ciências sociais e humanas. Eventos como estes trazem-nos memórias antigas, como o caso da Peste Negra no século XIV, da cólera no século XIX ou das gripes de 1918. Perceber como os humanos se adaptaram a estas situações catastróficas no passado é importante para as populações do presente, dado que os indicadores biológicos são essenciais para entender as correlações entre saúde, morbilidade e mortalidade. Apoiados por novos desenvolvimentos científicos na Bioantropologia, socorrendo-se do conceito de produção social da saúde e da compreensão que as doenças têm fortes determinantes sociais, emergiram estudos significativos sobre a fragilidade do esqueleto humano, e como os humanos se adaptaram a certos eventos stressantes no passado. Esta abordagem combina conceitos epidemiológicos sobre fragilidade em seres humanos vivos com as necessárias adaptações ao seu uso sobre populações do passado. Reforça a hipótese de que indivíduos biologicamente resilientes, apesar de sujeitos stress significativo, sobreviveriam por mais tempo mas que veriam as suas fragilidades aumentar
Encontramos um paradoxo semelhante em populações modernas (paradoxo da morbilidade-mortalidade) ao compararmos padrões de saúde específicos dos sexos, incluindo estudos relacionados com a COVID19. Explorar populações do passado e do presente que enfrentam eventos desafiantes abre o caminho a comparações e a discussões sobre as origens, evolução e gerenciamento de condições similares ao longo do tempo.
Uma abordagem holística e biocultural à interpretação de doenças no passado reforça a ideia que estudar-se a mortalidade e a morbilidade não se pode limitar à interpretação de dados biológicos, mas que estes dados devem ser contextualizados num panorama social e cultural mais vasto. Doenças e morte estão frequentemente associadas com desigualdades sociais, e sabe-se que as práticas culturais têm sido moldadas pela doença. Como consequência, morte por doença é frequentemente um estigma da marginalização social e cultural, tanto no passado como no presente, tal como é revelado pelos dados referentes à pandemia actual.
Este projecto pretende centrar-se na avaliação das fragilidades humanas no passado, e em como isto se relaciona com a capacidade de lidarmos com constrangimentos ambientais. Uma conotação forte com a actual pandemia de COVID19 permite comparar e discernir eventos passados, e antever comportamentos futuros. Permite também avaliar o impacto das condições ambientais sobre a mortalidade. O projecto faz uso de uma abordagem multimetodológica, combinando análises da bioantropologia, da bioarqueologia, da biologia molécular, da biogeoquímica, da arqueologia e da análise de arquivos. Irá estudar uma colecção arqueológica associada ao cemitério do hospital da Ordem Terceira da Nossa Senhora do Carmo, localizado na Praça Carlos Alberto, no Porto (Portugal). Centrar-se-á na análise bioantropológica dos esqueletos humanos exumados, agregando dados sobre perfis biológicos (sexo e idade à morte) e patológicos, dados sobre parentesco, e também dados sobre dieta e padrões de mobilidade. Adicionalmente, estes dados serão agregados, comparados e confirmados com recurso a dados histórico-arqueológicos, e contextualizados, uma vez que também será dada ênfase à análise arqueológica dos contextos, do local de enterramento e da cultura material encontrada. Cronologicamente, esta colecção situa-se entre os anos de 1801 e 1869, um período recheado de eventos históricos assinaláveis na história de Portugal, particularmente na cidade do Porto, como as Guerras Napoleónicas, o Cerco ao Porto durante a Revolução Civil e a epidemia de cólera. Dadas as suas características, tanto o contexto como a colecção são únicos em Portugal, resultando na combinação perfeita para uma avaliação holística sobre a fragilidade humana.
Equipa
Ana Maria Lopez Parra (Complutense University of Madrid)
André Bragão (Universidade Nova de Lisboa)
Anne Malcherek
Claudia Gomes (Complutense University of Madrid)
César López Matayoshi (Complutense University of Madrid)
Eduardo Arroyo Pardo (Complutense University of Madrid)
Elvira Mangas Carrasco (Universidade de Santiago de Compostela)
Joana Lucas
Maura Pellegrini
Nicholas Marquez-Grant (Cranfield University)
Olalla Lopez-Costas (Universidade de Santiago de Compostela)
Rodrigo Banha da Silva (NOVA FCSH)
Sara Palomo Díez (Complutense University of Madrid)
Steffi Vassallo
Sílvia Casimiro