Abstract

Embora o fim da ditadura e do colonialismo tenham uma interdependência histórica, ao longo de quase meio século Portugal tem evitado discutir o seu passado colonial. Como resultado, um conjunto de literatura tem assinalado a não incorporação de muitas pessoas negras como verdadeiras cidadãs em Portugal, assim como a persistência de várias formas de racismo e exclusão. A hipótese deste projeto é a de que a cultura musical tem sido um instrumento de afirmação social e política para os afrodescendentes e utilizada como arma para combater a reprodução das desigualdades étnico-raciais. De que forma, através da música, as diferentes gerações de afrodescendentes, têm mudado a autorrepresentação de Portugal, revisitando o passado, disputando o seu presente, e redefinindo imaginários sobre o seu futuro? Estamos a assistir a um processo de afirmação cultural com impactos políticos significativos? Com base numa abordagem etnográfica, esta investigação irá mapear os sons, palavras, imagens e as políticas da música afro-portuguesa, investigando o papel que esta assume no questionamento do lugar que os corpos racializados ocupam na sociedade e cultura portuguesas.