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FILMASPORA - Filmes Populares na Diáspora: para uma nova cine-geografia da área metropolitana de Lisboa

Investigador responsável: Ruy Llera Blanes

Investigador externo responsável: Catarina Laranjeiro (IHC - NOVA FCSH)

Grupo de investigação: Desafios Ambientais, Sustentabilidade e Etnografia


Palavras-chave

Cinema Popular | Racismo Institucional | Periferia | Afrodescendentes

Instituição financiadora

Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Parceiros

IHC - NOVA FCSH (coord.), CES, CIES-Iscte, FBAUL

Estado

Aberto

Data de início

01-10-2024

Data de fim

30-04-2026

Referência

2023.11438.PEX

Documentos

Abstract

FILMASPORA é um estudo inaugural sobre o cinema periférico realizado por comunidades afrodescendentes em Portugal, doravante designado por "cinema popular da diáspora". Trata-se de filmes produzidos com orçamentos reduzidos e equipamentos de baixo custo por cineastas amadores. Este tipo de filmes tem sido estudado noutros contextos geográficos, quer como cinema de diáspora (na Europa), quer como cinema de favela (na América Latina). Porém, nenhuma atenção académica lhe foi atribuída em Portugal. FILMASPORA pretende colmatar esta lacuna, focando especificamente os temas que ecoam dessas manifestações, bem como os seus modos de produção e distribuição. A diáspora é aqui tomada como um lugar privilegiado para abordar questões de identidade e pertença através das múltiplas agências e territorialidades em que as populações afrodescendentes estão envolvidas, ao mesmo tempo que desafiam o lugar de subalternidade ocupado na sociedade portuguesa. Que identidades as comunidades afrodescendentes em Portugal materializam através do audiovisual? E como essas materialidades reiteram ou contestam a sua condição de habitantes e construtores das periferias urbanas? Respondendo a estas questões, FILMASPORA propõe revelar um retrato inusitado de Portugal, neste caso, como país de imigração, e de identidades que são tipicamente ocultadas das narrativas autorizadas sobre o ser português e representar os portugueses. Um exemplo é a paisagem urbana onde estes filmes são realizados: territórios invisibilizados pelas políticas públicas - bairros autoproduzidos, de realojamentos, terrenos baldios, etc.
- que contam histórias de violência e, simultaneamente, confirmam as periferias urbanas como lugares de uma ativa produção cultural, em
contradição com o estigma com que são vistas. Partindo do campo dos estudos fílmicos, FILMASPORA dialogará com investigações pioneiras sobre as comunidades afrodescendentes em Portugal: em primeiro lugar, os estudos sobre outras expressões artísticas, nomeadamente o graffiti e o rap crioulo, que ofereceram as primeiras contra-narrativas sobre as periferias urbanas, desconstruindo o estigma que lhes estava associado. Concomitantemente, os estudos urbanos que tratam das transformações nos territórios periféricos, onde uma parte considerável das comunidades afrodescendentes habita. Em terceiro lugar, os estudos sobre o racismo institucional, que abordam a segregação e a exclusão racial e social, resultantes de uma interpretação do passado colonial como excecional e não violento. De facto, os filmes populares da diáspora denunciam tensões pós-coloniais que, agonizadas e transformadas no contexto da diáspora, chamam a atenção para práticas de segregação e exclusão que sobreviveram ao fim do colonialismo. Finalmente, FILMASPORA dialogará com o campo dos estudos fílmicos, contribuindo para a sua expansão e simultaneamente para o debate sobre a forma como o cinema popular da diáspora está a contribuir para a "descolonização do olhar" que está a ter lugar no campo da cultura visual. É que este movimento cinematográfico está a gerar novos agentes - realizadores, produtores e espectadores - que estão a desempenhar um papel de vanguarda na criação de ferramentas visuais capazes de desestabilizar as abordagens cinematográficas mais canónicas e eurocêntricas. Metodologicamente, este projeto irá: 1) recolher e sistematizar os filmes periféricos realizados na área metropolitana de Lisboa; 2) mapear os locais de filmagem, produção e distribuição; 3) elaborar uma base de dados digital, cuja continuidade possa ser assegurada, de modo a disponibilizar estes filmes a futuros projetos de investigação, críticos de cinema e espectadores. Esta base de dados será o principal resultado deste projeto que, ao evidenciar uma cine-geografia alternativa da área metropolitana de Lisboa, confirmará os territórios urbanos periféricos como lugares não anómalos
nem marginais, onde se está a consolidar uma cultura cinematográfica emergente. Todas estas atividades serão ancoradas por um ciclo de
workshops, onde serão debatidas as principais questões abordadas pelos filmes populares da diáspora, e por dois seminários ministrados pelos consultores do projeto. Enquanto estudo exploratório, o FILMASPORA centrar-se-á na área metropolitana de Lisboa. No entanto, espera-se que surjam novas candidaturas para, num futuro próximo, alargar esta investigação a todo o país e realizar um projeto de investigação comparativo com outras cidades europeias. O FILMASPORA conta com uma equipa multidisciplinar das áreas da antropologia, da sociologia, e dos estudos fílmicos, combinando a investigação sobre as comunidades afrodescendentes com a análise fílmica, processo que será expandido ao longo dos workshops incluídos no projeto.

Equipa

Ana Rita Lopes Alves (CES)

Fabian Cevallos Vivar (Faculdade de Belas-Artes - UL)

Gabriela Rocha (CES)

Inês Sapeta Dias (NOVA FCSH)

Otávio Raposo (CIES - Iscte)